Lula deixa centrão na linha de espera e adia desenho da reforma ministerial

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Por Júlia Chaib, Thiago Resende e Victoria Azevedo | Folhapress

Foto: Ricardo Stuckert / PR

Sem definição para a reforma ministerial, o presidente Lula (PT) tem alimentado o centrão com sinalizações sobre qual deve ser o desenho da nova Esplanada a ser proposto ao PP e ao Republicanos.

Aliados esperam que o desfecho ocorra depois do lançamento do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), no dia 11 de agosto, e antes de viagem ao Paraguai, no dia 15.

No encontro secreto que teve na última quarta-feira (2) com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no Palácio da Alvorada, Lula reforçou que cumprirá a promessa de incluir parlamentares do PP e Republicanos no ministério.

Segundo relato de Lira a aliados, porém, o petista teria indicado que a reforma ministerial está travada principalmente por causa da incerteza sobre as pastas que oferecerá —sobretudo a que será entregue ao PP.

O presidente sinalizou que o Republicanos pode mesmo ocupar a chefia do Ministério dos Esportes, como o partido pleiteia. No caso do PP, é grande a chance de o partido chefiar a Caixa Econômica Federal. Não está definido, porém, qual ministério será oferecido à legenda.

Lula aproveitou o encontro, segundo auxiliares presidenciais, para rechaçar que vá dar ao PP o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família.

O encontro de Lira e Lula não constou na agenda de nenhum dos dois. O pedido de reunião partiu do próprio presidente da Câmara, segundo auxiliares.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, Lula sinalizou a integrantes da cúpula de seu partido a disposição de que a reforma tenha como alvo ministérios comandados hoje por titulares sem padrinhos políticos e representantes de PSB e PT.

Aliados de Lula, no entanto, adotam cautela e ainda veem alguma sobrevida da ministra Ana Moser (Esportes). Eles afirmam que ela tem apoio do meio esportivo, principalmente de atletas, e dizem que sua eventual saída geraria muitos ruídos para o presidente, ainda mais num momento em que ela tem se dedicado à candidatura do Brasil para receber a Copa do Mundo feminina em 2027.

Segundo membros do governo, a demora em concretizar a reforma ministerial gera mal-estar com parlamentares, num momento em que pautas consideradas prioritárias para o governo estão em tramitação no Congresso Nacional —como por exemplo o novo arcabouço fiscal na Câmara e a Reforma Tributária no Senado.

A morosidade tem gerado irritação em parlamentares. O presidente embarcou para Belém na sexta-feira (4), onde ficará até o dia 9. Em seguida, tem previsão de viagem para o Rio, no dia 10 e 11, e para o Paraguai, no dia 15. A expectativa é que ele resolva as trocas antes da viagem internacional.

Há uma irritação e desconforto entre deputados tanto pela demora nas nomeações como na definição de quais pastas serão oferecidas ao centrão.

Entre os desenhos possíveis de mudança na Esplanada, está a possibilidade de criação de um novo ministério para abrigar representantes do centrão.

Segundo relatos, uma alternativa seria desmembrar a pasta de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, chefiada pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), para criar um ministério da Micro e Pequena Empresa e Empreendedorismo (atualmente com o status de secretaria dentro do ministério).

Outro desenho prevê remanejar Alckmin e dar ao centrão o comando do próprio ministério. O vice-presidente, porém, dá sinais de que não gostaria de deixar a chefia da pasta. Além disso, o vice-presidente tem feito um trabalho bem avaliado por palacianos e gosta do ministério.

Cobiçados pelo centrão, os Correios e a Embratur devem continuar nas mãos de aliados de Lula. O presidente sinalizou que não quer entregar essas estatais ao grupo de Lira.

Na sexta-feira (4), o ministro Alexandre Padilha, da SRI (Secretaria de Relações Institucionais), disse que o presidente decidiu que os deputados André Fufuca (PP-MA) e o Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) serão ministros.

“Primeiro, já tem uma decisão do presidente Lula de trazer esses dois parlamentares que representam duas bancadas importantes no Congresso”, disse. “Mas, mais do que elas, podem atrair outros parlamentares, trazê-los para o governo, convidá-los para ocupar postos de ministérios. São parlamentares que só podem vir para ocupar ministérios”, completou.

Padilha não sinalizou, contudo, quais seriam as pastas que os dois parlamentares ocupariam.

O chefe do Executivo ainda não se encontrou com dirigentes e líderes do PP e do Republicanos, como pretendia a articulação política do Palácio do Planalto. Alguns deles estavam fora de Brasília nas últimas semanas. Além disso, a intensa agenda de viagens do presidente adiou a retomada das conversas para a semana de 14 de agosto.

Pessoas próximas ao petista minimizam a demora para a realização das reuniões e dizem que elas não aconteceram até o momento porque Lula estava focado em temas como o chamado novo PAC e a preparação para a Cúpula da Amazônia.

Além disso, o presidente quis se reunir com ministros com os quais não tem agendas frequentemente —de acordo com um auxiliar de Lula ele não iria fazer nenhuma troca ministerial sem antes falar com os titulares das pastas pessoalmente.

Auxiliares de Lula planejavam que, na volta dos trabalhos do Congresso, o governo iria consolidar a boa fase do fim do semestre e amarrar o apoio do centrão.

Diante das movimentações para atrair partidos do centrão, membros do PSD, que tem três ministérios na Esplanada e é da base governista, se reuniram com Alexandre Padilha para pleitear o comando da Funasa (Fundação Nacional de Saúde).

Com orçamento bilionário, o órgão havia sido extinto no começo da gestão petista, que planejava distribuir as atividades da fundação entre os ministérios da Saúde e das Cidades, mas o Congresso Nacional decidiu recriá-lo.

Segundo relatos, os parlamentares reforçaram a indicação do nome do ex-vice-governador do Ceará Domingos Filho (PSD) para chefiar o órgão, e ouviram de Padilha que esse era um “pleito justo”. A Funasa foi um dos pedidos da legenda para o governo ainda na transição.