Disputa entre PCC e Comando Vermelho coloca cidade do interior da Bahia como a mais violenta do país

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Via Bahia.ba

Foto: Divulgação/Prefeitura de Jequié

Tentar entender a dinâmica que faz com que Jequié, cidade do interior baiano tenha sido apontada como a cidade mais violenta do país, com o maior número de mortes violentas em 2022 por cada 100 mil habitantes: 88,8 – de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Em outras cidades que ficam entre as mais violentas do Brasil, como é o caso de Santo Antônio de Jesus (88,3) e Simões Filho (87,4) é possível ter explicações mais acessíveis. A primeira é cortada pela BR-101, ao passo que a segunda fica entre os municípios da Região Metropolitana da Salvador e, por isso, pela proximidade com grandes centros urbanos, historicamente tem índices de violência mais altos.

Jequié, que, de acordo com o Censo 2022, possui 158 mil habitantes, o que não deixa a cidade nem entre as 10 mais populosas da Bahia, no entanto, apresentam alguns pontos que podem ser os que explicam a colocação da cidade do sudoeste baiano no topo do ranking no tocante a mortes violentas.

A primeira dessas explicações seria a guerra de facções pelo controle do tráfico de drogas na cidade. Na última década, com ligação com o Comando Vermelho, o traficante Sandro Santos Queiroz, conhecido como Real, comandou, de forma hegemônica a prática na cidade. No último ano, no entanto, dissidentes do grupo do CV teriam demandado para o lado do Primeiro Comando da Capital (PCC). Isso iniciou no município uma disputa acirrada por territórios, tendo, inclusive, uma lista de alvos das facções que circula em grupos de Whatsapp.

Um exemplo dos efeitos dessa cisão é mostrado pelo próprio Anuário. Em 2020, foram 57 mortes violentas entre os jequieenses, subindo para 85 em 2021 e 141 em 2022. Além disso, a média de idade das vítimas é de 26 anos.

Tendo uma penitenciária de médio porte na cidade, segundo as forças de segurança, é de lá onde parte a maior parte das ordens de execução. Corroboram com esse fato, a quantidade de celulares que são apreendidos no presídio, chegando a até 30 aparelhos recolhidos em um só dia de operações de rotina.

“Mais de 90% das mortes são execuções ligadas ao tráfico. Em geral, de dois a quatro homens que chegam nos bairros para cumprir as ordens, retiram os alvos das casas e os executam na rua”, aponta o delegado Rodrigo Fernando de Souza, chefe da Coordenadoria Regional de Polícia de Jequié, em entrevista à Folha de S. Paulo.

Por outro lado, o domínio das facções não seria o único problema. Em bairros como Joaquim Romão e Barro Preto, há queixas constantes sobre as intervenções da polícia. Mães de vítimas se uniram para denunciar ações violentas. No mês passado, protestaram na Câmara Municipal de Jequié, que relatou a situação ao Ministério dos Direitos Humanos. Em 2022, 38 das 141 mortes violentas em Jequié –uma em cada quatro– foram registradas como autos de resistência.

Como forma de tentar minorar a situação de violência em que Jequié se encontro, na sexta-feira (21), a Polícia Civil deflagrou uma operação com foco nas operações financeiras ligadas a traficantes que atuam em Jequié. A investigação, que durou 16 meses, mostrou uma teia com 541 contas bancárias que movimentaram R$ 116 milhões. O esquema envolvia dois advogados.