Via Folhapress
Com o impulso do fim das restrições da pandemia, o volume do setor de serviços fechou o ano de 2022 em alta no Brasil. O crescimento acumulado foi de 8,3%, informou nesta sexta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado colocou o segmento no patamar recorde da série histórica, iniciada em 2011. O setor também ampliou a distância em relação ao nível pré-pandemia. Ficou 14,4% acima de fevereiro de 2020, período anterior à crise sanitária.
O ano passado trouxe o segundo crescimento consecutivo de serviços, o principal empregador no Brasil. Em 2021, o setor até havia subido mais (10,9%), mas sob influência da base de comparação fragilizada após o tombo de 2020 (-7,8%).
Em dezembro de 2022, a prestação de serviços subiu 3,1% ante novembro. O dado veio bem acima da mediana das projeções do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam crescimento de 1,3% nesse recorte.
O IBGE fez revisões em meses anteriores da série. Com o ajuste, o dado de novembro, por exemplo, passou de estagnação (0%) para baixa de 0,4%. O setor de serviços envolve uma grande variedade de negócios. Inclui, por exemplo, empresas de transporte, informação e comunicação, além de atividades financeiras, bares, restaurantes e hotéis.
DESEMPENHO ACIMA DE INDÚSTRIA E VAREJO
Em 2022, o segmento mostrou um desempenho mais expressivo do que a produção industrial e as vendas do varejo, também pesquisadas pelo IBGE. A produção das fábricas teve baixa de 0,7%, enquanto o comércio avançou 1%.
“Serviços que deixaram de ser consumidos na pandemia, como viagens, voltaram com tudo em 2022. Além disso, o aumento da massa salarial também impulsiona o setor, já que há mais renda disponível para gastar com saúde, educação, beleza, entre outros”, afirmou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, em relatório.
“Por tudo isso, serviços mostraram ao longo de 2022 mais resiliência do que comércio e indústria, que já vinham acusando os efeitos negativos da alta taxa de juros e da desaceleração da economia global”, completou.
Luiz Almeida, analista da pesquisa do IBGE, também avaliou que a retomada dos serviços presenciais impulsionou o crescimento em 2022, após o distanciamento social de 2020 e 2021.
Segundo o instituto, esse movimento atingiu principalmente o ramo de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, que cresceu 13,3%. Foi a principal influência positiva para o resultado do setor como um todo no ano passado.
“O setor de transportes cresce desde 2020, mas com dinâmica diferente: inicialmente, por causa da área de logística, com alta nos serviços de entrega, em substituição às compras presenciais. Já em 2022, há manutenção da influência do transporte de carga, puxado pela produção agrícola, mas também pela reabertura e a retomada das atividades turísticas, impactando o índice no transporte de passageiro”, disse Almeida.
O ramo dos serviços profissionais, administrativos e complementares respondeu pelo segundo maior impacto no resultado do setor como um todo em 2022. A expansão foi de 7,7%. Nessa atividade, o destaque veio de empresas como as de locação de automóveis, serviços de engenharia, soluções de pagamentos eletrônicos e organização, promoção e gestão de feiras, congressos e convenções, conforme o IBGE.
SERVIÇOS PRESTADOS ÀS FAMÍLIAS SOBEM 24%
Já os serviços prestados às famílias tiveram crescimento de 24% no ano. Foi a terceira principal influência sobre o setor como um todo. O desempenho foi puxado por negócios como restaurantes, hotéis, bufê, catering e condicionamento físico.
Mesmo com o avanço de 24%, o ramo não se recuperou totalmente da pandemia. É a única das cinco atividades pesquisadas dentro de serviços que permanece abaixo do nível de fevereiro de 2020. Em dezembro, os serviços prestados às famílias ainda estavam em patamar 4,3% inferior ao pré-crise.
No acumulado de 2022, também houve alta de 3,3% na atividade de informação e comunicação. O ramo de outros serviços foi o único em baixa no ano passado (-2,1%), influenciado por serviços financeiros.
POSSÍVEL FREIO EM 2023
Em 2023, o juro alto e o fim do estímulo da reabertura são vistos como fatores com potencial de limitar o desempenho de serviços. A inflação também preocupa analistas.
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de serviços acelerou de 0,44% em dezembro para 0,60% em janeiro, segundo dados divulgados pelo IBGE na quinta-feira (9).
Em 12 meses, a taxa passou de 7,58% para 7,80%.
“Assim como outros setores da economia, serviços também devem começar a sentir mais fortemente os efeitos tardios da elevação da taxa de juros e da desaceleração da economia global. Por isso, daqui para a frente, devemos ver serviços andando de lado ou até contraindo”, projetou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.