Na pandemia, desempenho de alunos de escola particular cai mais do que na rede pública

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por Isabela Palhares, Paulo Saldaña e William Cardoso | Folhapress

As escolas privadas do país tiveram maior recuo de aprendizagem do que as públicas durante a pandemia de Covid-19 nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.

Mas, apesar dessa queda mais acentuada, a rede particular continua com desempenho melhor que a pública.

O Ministério da Educação apresentou, nesta sexta-feira (16), os dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), principal termômetro da educação brasileira. Os resultados mostram que, durante a pandemia, houve queda de aprendizado em todas as séries tanto nas escolas públicas quanto nas privadas.

O maior recuo da rede privada aconteceu em matemática no 9º ano. A média dos estudantes foi de 292,52 pontos em 2021—10 pontos a menos que na edição anterior, em 2019 (pré-pandemia), quando a média foi de 302,9. O resultado faz as escolas particulares regredirem ao mesmo patamar que estavam em 2009.

Os estudantes de 9º ano da rede pública também tiveram perda de rendimento em matemática, mas a queda foi menos acentuada. A média passou de 257,1 para 252 —um recuo de 5 pontos.

Em português, a queda também foi mais acentuada na rede particular. A média do 9º ano passou de 293,6 para 288,8 —uma diminuição de mais de 4 pontos. Já na rede pública, a queda foi de 0,8 ponto, passando de uma média de 255,6 para 254,8.

No último ano do ensino médio, o recuo também foi maior. A média das escolas particulares em matemática passou de 334,7 pontos para 323,4 pontos —uma perda de 11,7 pontos. Já as públicas tiveram uma queda na média de 269 para 262,7, uma diminuição de 6,3 pontos.

Em português, a média das escolas particulares passou de 322,1 para 315 pontos – um recuo de 7 pontos. Já a rede pública, teve uma diminuição na média de 272,3 para 269,7 – uma perda de 2,5 pontos.

As provas do Saeb foram aplicadas entre novembro e dezembro de 2021, depois de quase dois anos de escolas fechadas ou com atividades presenciais apenas de forma parcial por causa da pandemia.

Em geral, as escolas particulares retomaram as aulas presenciais antes das públicas. Também conseguiram implementar melhor o ensino remoto, já que seus estudantes tinham mais acesso a internet e equipamentos eletrônicos.

Mais de 80% dos alunos matriculados no ensino fundamental e médio do país estudam em escolas públicas.

O Saeb compõe o principal termômetro da educação brasileira. A aplicação é feita a cada dois anos pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do Ministério da Educação.

Foi apenas nos anos iniciais do fundamental que as escolas públicas tiveram perdas maiores do que as particulares. O desempenho dos alunos do 5º ano do ensino fundamental de redes públicas em matemática passou de 222,41 em 2019 para 210 pontos em 2021 —uma queda de mais de 12 pontos. Já na rede particular, a média passou de 253,4 para 250 — um recuo de 3 pontos.

Em português, a média da rede pública foi de 209 para 201,4 —uma perda de mais de 7 pontos. Já a rede privada perdeu 0,5 ponto, passando de 240,7 para 240,1.

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ENTENDA O IDEB

– O que é?

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica foi criado pelo Inep em 2007 para medir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino.

O indicador é calculado para cada escola, município e estado.

– Como é calculado?

O Ideb é formado por dois fatores:

1. desempenho dos estudantes no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica); as provas de matemática e português são aplicadas a cada dois anos

2. taxas de aprovação escolar

Com esses dois componentes é calculado o índice, que varia de 0 a 10.

– O Ideb estabelece alguma meta?

Sim. Quando o indicador foi criado, ficou estabelecido que a média 6 seria o objetivo. Na ocasião, foi considerado que essa média corresponderia ao sistema educacional dos países desenvolvidos.

– Quais são os mecanismos para evitar distorções no índice?

O Ideb foi criado equilibrando duas dimensões (nota do Saeb e tava de aprovação) para evitar que medidas pudessem alterar artificialmente o indicador.

Por exemplo: se uma rede de ensino reprovar seus alunos com mais dificuldades para obter maiores resultados na avaliação do Saeb, o fator fluxo fica prejudicado.

Se, ao contrário, a rede forçar a aprovação de alunos com baixo desempenho, o resultado do indicador também será prejudicado.

– Por que o resultado do índice foi atrapalhado na pandemia?

Como as redes de ensino seguiram a orientação de não reprovarem alunos durante o fechamento de escolas, esse componente do Ideb foi comprometido. Com a taxa de aprovação maior, o indicador de 2021 cresceu, apesar da queda generalizada de aprendizado apontada pelos resultados das provas do Saeb.