Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) admitem que para ganhar a eleição deste ano, será necessário reconquistar os votos dos chamados “arrependidos” de 2018, aqueles que votaram no presidente na onda do antipetismo e agora migraram para a terceira via ou até para Lula (PT).
Um dos focos será retomar o discurso do antipetismo e a narrativa de que não há corrupção no governo Bolsonaro — prejudicada nesta última semana, diante dos escândalos no Ministério da Educação envolvendo o próprio ministro Milton Ribeiro e pastores sem cargo público que negociavam a liberação de recursos da pasta.
Levantamentos aos quais aliados do chefe do Executivo tiveram acesso dão conta de que, além das mulheres, os jovens integram o grupo de maior rejeição a Bolsonaro.
Desde que assumiu a Presidência, procurar quem pensa diferente nunca se mostrou uma prioridade de Bolsonaro. Em 2018, ele chegou ao Planalto impulsionado pelo antipetismo e pelo verniz de novidade, ainda que estivesse na política havia quase 30 anos.
Ao longo de seu mandato, Bolsonaro foi pressionado por aliados a moderar o discurso, especialmente no que diz respeito às vacinas contra a Covid-19. Em grande parte dessas ocasiões, ignorou os apelos. Nos últimos meses, porém, o mandatário não tem mais se insurgido de forma direta contra o programa de vacinação.
A ideia de modular o discurso defendida pelos aliados é criar uma versão light para o que o presidente sempre falou. Pode, dizem eles, criticar ministros do Supremo Tribunal Federal, contanto que não ameace a instituição ou xingue diretamente esse ou aquele ministro. O entorno do presidente sabe que Bolsonaro não muda muito.
É nesse cenário que integrantes de sua campanha creditam a melhora na pesquisa do Datafolha desta semana ao novo tom do chefe do Executivo.
O levantamento mostrou que Bolsonaro encurtou as distâncias para o primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A pesquisa mostra o petista pontuando, no primeiro turno, com 43% das intenções de voto, contra 26% de Bolsonaro. No levantamento anterior do Datafolha, de dezembro, Lula vencia o atual presidente por 59% a 30% no segundo turno. Agora, Lula venceria com 55% contra 34%.
Hoje os palacianos dizem acreditar que o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, pré-candidato do Podemos à Presidência, tem poucas chances de decolar na campanha.
Os demais candidatos da chamada terceira via, idem. Assim, a modulação do discurso serviria, mais uma vez, para aproximar Bolsonaro dessa parcela do eleitorado.
Também com a classe média Bolsonaro teve uma melhora no desempenho no Datafolha. O presidente saltou entre eleitores com renda de dois a cinco salários mínimos e reduziu a vantagem de Lula no segmento.
Há um denominador comum em todos os discursos do atual chefe do Executivo. Sempre que pode, ele compara seu governo às gestões petistas, à sua forma.
Compara o lucro da Petrobras com o prejuízo no passado, e fala de escândalos de corrupção. Uma das frases preferidas de Bolsonaro há alguns meses é dizer que este governo nunca registrou caso de corrupção.